segunda-feira, 14 de março de 2011

PERNAMBUCO TRAZ SEUS FILHOS DE VOLTA COM AS OPORTUNIDADES

GENTE QUE VEM GENTE QUE VAI


Aquela velha e tão repetida história do nordestino que sai de sua terra natal em busca de oportunidades no sul já começa a ficar na memória dos mais antigos. E Pernambuco tem clara contribuição nessa mudança. Aos poucos, pernambucanos voltam a seu Estado, e com expectativas ainda maiores das que tinham quando emigraram. E não só há quem volte, mas muita gente que está saindo de grandes metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro para fazer carreira no novo Nordeste.

De volta, saiu ganhando






Joselma Pereira, 35, já foi babá, empacotadora de supermercado e fez vários "bicos" para garantir sua renda. Nunca teve sua carteira de trabalho assinada. "Em Pernambuco, eu trabalhava muito, e ganhava muito pouco", lembra.

Não vendo mais perspectivas em seu Estado de origem, resolveu deixar Vitória de Santo Antão, município da Zona da Mata pernambucana, para tentar a vida no Sudeste. Ficou 10 meses no Rio de Janeiro e sete anos em São Paulo. Nesse período, foi babá, manicure e balconista de padaria e auxiliar de escritório. Não encontrou o que queria: uma profissão.

Nas suas voltas, rápidas, por Pernambuco, que fazia motivada pela saudade, pra ver a família, sempre tirava um tempinho pra ver se achava emprego em sua terra, e nunca encontrava nada. Mas, em 2007, numa dessas visitas, ouviu um carro de som na rua informando sobre inscrições abertas para trabalhar em um estaleiro que estava para se instalar em Ipojuca.

"Aí, falei pra mim mesma: ´vou me inscrever´. Fui lá fiz os testes e foi aprovada. Então, resolvi ficar", conta.

Reviravolta



Quando sonhava em uma profissão, nunca imaginava que esta seria na área de soldagem, algo que parece pertencer tão mais ao universo masculino. Mas foi aí que se encontrou. "Queria fazer turismo, nunca passou pela minha cabeça ser soldadora, mas eu passei a gostar da solda", afirma. De auxiliar de soldador, hoje, Joselma é responsável por uma equipe de 35 pessoas no Estaleiro Atlântico Sul (EAS), o maior do hemisfério, e é conhecida como a "rainha do aço pernambucano".

"Nunca pensei que ia encontrar minha profissão aqui em Pernambuco, e hoje tenho perspectiva profissional. E meu filho, de oito anos, já diz que ser presidente do estaleiro", revela.

"Agora, o pessoal daqui da região já pensa em estudar, porque quer entrar no estaleiro, todo mundo quer trabalhar aqui, e ninguém mais pensa em ir embora", conta.

Do Sudeste para PE



Na mesma empresa, encontra-se Diogo Pacífico, 29, que tem uma história bastante diferente da de Joselma. Ele não é nordestino, e largou o seu sudeste para fazer carreira em Pernambuco. Ele é engenheiro naval formado recentemente pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), estado com tradição na área em que resolveu atuar.

Talvez por isso, nem imaginava que ia buscar seu futuro profissional no Nordeste. Quando entrou na graduação, em 1999, o Brasil estava vivendo o início de reativação de sua indústria naval, e isso o motivou a seguir a carreira na área.

Ainda quando cursava a universidade, Diogo entrou como estagiário no escritório do EAS no Rio de Janeiro. Depois de formado, foi contratado pela empresa e, então, surgiu a oportunidade de ir trabalhar no estaleiro pernambucano, em Suape, que ele agarrou, sem hesitar.

Vinda sem volta

"Poucos profissionais no Brasil podem acompanhar o início de um estaleiro, e eu sempre quis vir pra cá. Aqui, cada dia é uma experiência inenarrável", conta Diogo Pacífico.

"O Nordeste tem sido muito falado, e o Sudeste, nessa área, não tem mais tanto a expandir. Portanto, agora ocorre o caminho inverso", analisa, reforçando que já não vislumbra mais deixar Pernambuco e voltar para o Rio de Janeiro.

MUDANÇA
Novos ofícios são foco de moradores

Cabo de Santo Agostinho (PE). A 78 quilômetros de Recife, fica Sirinhaém, município pernambucano de cerca de 40 mil habitantes e de economia ainda não bem desenvolvida. Com o avanço econômico de Suape, alguns moradores de lá resolveram migrar para a nova promessa de emprego que surge na região.

Assim fez Josuel Benedito, de 26 anos. Por lá, trabalhava em usina de cana, e não tinha renda fixa. Ouviu falar do complexo industrial e portuário que estava despontando e decidiu tentar a sorte. "Tinham outros amigos vindo e, então, eu arrisquei e vim", conta.

Hoje, não está mais desempregado. Trabalha com servente na empresa que faz a obra de duplicação da rodovia estadual PE-060. A situação está bem melhor, afirma, mas ainda não é a desejada por ele.

"Na verdade, eu quero ser carpinteiro", justifica. Nas horas vagas, Josuel acompanha o amigo carpinteiro, na tentativa de aprender, ainda que informalmente o ofício.

"Tem curso de carpinteiro, mas é longe daqui. Acho que falta investir mais em capacitação", sugere.

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