Mesmo operando com capacidade máxima nas fábricas, empresas não conseguem atender demanda
por ALYNE BITTENCOURT JASON VOGEL
Sucesso. Nas revendas Jeep, a versão mais equipada do Renegade tem espera de 60 dias. Os apressados têm de se contentar com o básico - Eduardo Naddar / Agência O Globo
RIO - Perplexos diante da queda de 18,4% nas vendas de automóveis de janeiro a abril deste ano, em comparação com o mesmo período de 2014, os fabricantes pisaram no freio. A cada dia, há notícias de operários demitidos ou postos em férias coletivas. Concessionárias fecham as portas. As previsões são de 2015 em marcha a ré e 2016 em ponto morto. Mesmo os mais otimistas acham que as vendas só voltarão a engrenar primeira marcha em 2017.
Na contramão, há empresas que estão acelerando: contratam gente, têm filas de espera e investem na produção.
Dois modelos, em especial, estão atropelando a crise: o Honda HR-V e o Jeep Renegade. São lançamentos recentes, fabricados no Brasil, custam a partir de R$ 70 mil e pertencem ao segmento dos utilitários compactos.
ENTREGAS? SÓ EM 2016
Em teoria, o HR-V está nas lojas desde março. Na realidade, há apenas exemplares para test drive. No Rio e em Niterói, de quatro lojas procuradas pela reportagem, nenhuma tinha o modelo. Os prazos prometidos para entrega vão de 45 a 120 dias.
A situação é ainda mais complicada em Brasília: apenas uma das quatro revendas da Honda na capital federal promete conseguir um HR-V ainda este ano (“entre setembro e dezembro”). Nas outras, encomendas só para 2016.
— Com a produção operando em capacidade máxima na fábrica de Sumaré (SP), não conseguimos oferecer um número maior de veículos nesse momento — explica Sergio Bessa, diretor de Relações Públicas da Honda.
A montadora deverá vender 50 mil HR-V no país este ano. E teve de reduzir a produção dos modelos Fit e City.
Com isso, encontrar Fit ou City também ficou difícil. Quando há o modelo, nem sempre é na versão ou cor desejada. Numa concessionária do Rio, o vendedor disse que em vez dos 30 City que desembarcavam na loja todos os meses, hoje chegam apenas oito.
Com linhas modernas, tamanho sem exagero, construção caprichada e bom de dirigir, o HR-V já é o modelo mais vendido da Honda no país. Em abril, foram emplacadas 4.957 unidades do utilitário, contra 2.920 do Ford Ecosport e 2.892 do Renault Duster.
E de 2014 para 2015, a participação da marca japonesa no mercado brasileiro pulou de 4,78% para 7,83% no ranking geral dos fabricantes.
Com um investimento de R$ 1 bilhão, a Honda vai aprontado sua nova fábrica. Fica em Itirapina (SP), com inauguração prevista para o fim deste ano.
Anselmo Oliveira pensou em adquirir um HR-V, mas a concessionária disse que só entregaria o carro em julho.
— Isso me desmotivou, e acabei vindo ver o Jeep Renegade. Bati o olho e gostei — diz o analista de tecnologia, ex-proprietário de um Fiesta Sedan.
Por R$ 72.400, Anselmo comprou o mais simples dos Renegade, versão Sport, com motor flex e câmbio manual. Recebeu o carro em uma semana.
Nas sete revendas da Jeep procuradas pela reportagem, só havia os básicos Renegade Sport. Quem quiser versões com motor a diesel ou mais equipadas terá de esperar cerca de 60 dias.
— Prefiro não dar previsão. Tenho a lista dos interessados e vou avisando à medida que os carros chegam — diz Jorge Saldanha, gerente de vendas da concessionária Azzurra, em Botafogo.
A produção do Renegade teve início em fevereiro, numa fábrica recém-construída em Goiana, Pernambuco.
— Felizmente há uma grande fila. E, também felizmente, está prestes a diminuir. Vamos aumentando a produção — afirma Sérgio Ferreira, diretor da Jeep para a América Latina. — O segmento dos utilitários compactos deve crescer 50% este ano.
PERSPECTIVA DE MÉDIO E LONGO PRAZO
A Toyota não faz utilitários compactos no Brasil, mas, mesmo assim, consegue vender toda sua produção. Tímida na época da euforia do mercado, a operação no país agora parece ter a medida certa. A marca diz que só não vende mais carros no Brasil por falta de capacidade industrial.
Por isso, está ampliando a fábrica em Sorocaba (SP), o que lhe permitirá aumentar a produção do compacto Etios de 70 mil para 108 mil unidades por ano.
E no primeiro semestre de 2016 será inaugurada uma fábrica de motores em Porto Feliz (SP). Até a antiga unidade de São Bernardo do Campo, de onde saíam os jipes Bandeirantes (1962-2001), voltou a funcionar, agora para fazer peças para a Hilux, o Corolla e partes de motor para exportação.
— Firmamos um acordo com o sindicato dos metalúrgicos, em que nos comprometemos a não demitir ou pôr ninguém em lay off na fábrica de São Bernardo. Um documento como esse foi assinado no Japão, nos anos 60, e está sendo cumprido até hoje. Em contrapartida, os funcionários têm de se esforçar pela competitividade — explica Steve St. Angelo, diretor executivo da Toyota para América Latina e Caribe.
Mas vale continuar a investir no Brasil, com vendas em baixa e custos altos?
— A médio e longo prazo, a perspectiva do país é muito boa. É preciso paciência — afirma o americano Mark Hogan, diretor mundial da Toyota, com certa filosofia oriental.
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