segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Meu filho é inocente", afirma diretor do Agnes, Pastor Edson

Raquelle Wacemberg

Folha-PE

Mais de 90 dias se passaram. O inquérito sobre a morte do pedagogo José Bernardino da Silva Filho, 49 anos, o Betinho do Agnes, ainda não foi concluído. A promessa é que seja finalizado no fim deste mês. Um dos principais suspeitos, segundo o delegado do caso, Alfredo Jorge, é Ademário Dantas, 19 anos, o filho do diretor geral do Colégio Agnes, Edson Dantas. O pai decidiu quebrar o silêncio. Falou, pela primeira vez, com exclusividade à Folha, sobre o ocorrido. No dia 16 de maio, o pedagogo, que há 17 anos trabalhava na escola como coordenador de pátio, foi encontrado morto em seu apartamento, no 7ª andar do edifício Módulo, na avenida Conde da Boa Vista. Ele estava despido da cintura para baixo, com as pernas amarradas com fios em torno do pescoço. Sofreu golpes na cabeça, dados com um ferro de passar roupa. Ele morava só. Trabalhava também em uma escola da rede municipal de ensino no bairro de Nova Descoberta, Zona Norte da Capital.

Esta é a primeira vez que o senhor comenta sobre o caso Betinho. O que tem a dizer?

É extremamente importante que se faça uma distinção da instituição Colégio Agnes com essa tragédia. Nós não podemos agregar as duas coisas. A vida privada de um funcionário não diz respeito à unidade de ensino. Lamentamos o ocorrido, mas o crime aconteceu fora da escola. No dia 16 de agosto, o Agnes completou 111 anos. Temos uma historia bonita de educar centenas de famílias, ensinando valores aos alunos todos os dias. Esse fato lamentável não pode ser trazido para a escola. É uma instituição séria, que deve ser respeitada.

seu filho é apontado como o principal suspeito na morte de Betinho. Como o senhor se sente?

Com menos de dez dias de investigação, já se chegou a um juízo de valor. No dia 4 de junho, todos os canais de comunicação divulgaram que os dois suspeitos, um menor de idade e um de 19 anos, estavam sendo colocados como principais alvos da investigação. Entre eles, o meu filho estava sendo indiciado e que o inquérito seria concluído na semana seguinte. O inquérito não foi concluído. Como pode ter sido indiciado?

O senhor acredita que o seu filho é inocente?

Com certeza. Meu filho é inocente. Até 21h, do dia 14 de maio, data do crime, ele estava lá em casa tocando violão. Às 21h30 minha esposa o viu na minha casa. Às 22h, eu estava com ele. Contra o meu filho nas investigações tem um fragmento de uma única digital no interior de uma cômoda e ele é considerado como suspeito? Se realmente for comprovado é que algum dia esteve lá, mas não no dia do crime, até porque digital não tem data. Nosso direito é acreditar que toda pessoa é inocente ate que se prove o contrário.

O sentimento é de injustiça?

Sim, claro. Cada dia que amanhece é um tormento nas nossas vidas. Mais de 90 dias já se passaram. O inquérito não chega ao fim. Foi dito no dia 4 de junho que, na semana seguinte, o inquérito seria concluído e só estavam aguardando o resultado do DNA. E já saiu, mas não divulgaram.

Que tipo de documento o senhor teve acesso?

O exame do DNA provou atividade sexual do funcionário do Agnes com um dos investigados bem no início do inquérito. Em nenhum momento, esse resultado foi divulgado. E deu negativo para qualquer pessoa da instituição. Um dos investigados tem contra ele várias digitais, filmagem e causa provável. Mas tudo foi descartado. 

Como Ademário tem reagido a essa situação?

Do ponto de vista de culpa, ele está tranquilo. ‘Não participei disso’. ‘Como posso estar envolvido se não fui lá?’. Ele diz isso a mim. Fico pensando o que poderia levá-lo a participar de uma situação dessa? Não tem lógica alguma. Não percebi nenhuma mudança de comportamento. Ele está praticamente em prisão domiciliar, não sai pra canto nenhum. Não pode sair com ninguém, não pode entrar em rede social. 

O senhor desconhece o envolvimento do seu filho com drogas?

Conversamos com ele. E ele garantiu que nunca tinha se envolvido com essas coisas. Se tivesse envolvido teria dito.O que o senhor espera com o desenrolar do caso?Continuo esperando em Deus que a verdade apareça. A Justiça será exercida de maneira justa, clara e imparcial. Tenho certeza de que quando esse processo chegar ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE) a condução será diferente. 

Quem é Ademário?

Ele é caseiro, gosta de tocar violão, é um menino de família, fazia parte do grupo de louvor da igreja. Às vezes passa oito horas tocando. O único defeito dele é que não gosta de estudar. Não somos uma família rica. Tenho apenas um emprego da instituição de ensino e sobrevivo desse emprego para custear essa situação com muito sacrifício. Ele é um filho de trabalhador que espera que a Justiça seja feita.

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