terça-feira, 3 de maio de 2016

A decadência de um império: Grupo João Santos à beira da falência

Reportagem Especial

Redação Goiana Notícias

 Foto: Reprodução/Internet

 

Se você não tem parentes morando ou trabalhando na Ilha de Itapessoca, lugar paradisíaco localizado no distrito de Tejucupapo, em Goiana, provavelmente nunca tenha conhecido suas belezas. No entanto, o destaque para o local vai além de seus encantos naturais.

 

Em Itapessoca funciona uma fábrica de cimento, desde o ano de 1951, fundada por João Pereira dos Santos, presidente do Grupo Industrial João Santos. Além da Itapessoca Agroindustrial, que fabrica o Cimento Nassau, fazem parte do Grupo a Companhia Agroindustrial de Goiana (CAIG), localizada na Usina Santa Tereza e a TV Tribuna.

 

Os dois empreendimentos do Grupo em Goiana, Cimento Nassau e a CAIG, chegam a contabilizar quase 1000 funcionários. Considerado um dos maiores complexos industriais do Nordeste, o Grupo João Santos obteve uma receita de R$ 2,8 bilhões, em 2009, segundo dados da Isto É Dinheiro e seu patrimônio foi avaliado em cerca de R$ 5 bilhões de reais.

 

No entanto, o império do Grupo começou a andar mal das pernas há 7 anos, na ocasião da morte do patriarca e presidente do conglomerado, João Pereira dos Santos. 

 

Nos últimos meses, a Itapessoca Agroindustrial foi palco de acontecimentos que chamaram a atenção da sociedade e das autoridades para a situação em que seus funcionários se encontraram. Com meses de salário atrasados, os trabalhadores da fábrica de cimento simplesmente cruzaram os braços e se recusaram a trabalhar. Muitos alegavam até estar passando fome. A crise entre os trabalhadores e a empresa precisou de interferência do Ministério Público do Trabalho, pois a classe alegava a falta de diálogo e o descaso com a situação. O ápice da situação aconteceu no dia em que manifestantes protestaram com cartazes e apitos em frente ao escritório central da empresa, no Recife. 

 

Mal uma solução paliativa foi dada ao caso dos trabalhadores de Itapessoca, os funcionários de outra empresa do Grupo João Santos se depararam com a mesma situação. Com salários atrasados desde o mês de janeiro e após negociações que não garantiram resultados satisfatórios, foi a vez dos trabalhadores da CAIG (Usina Santa Teresa) pararem de trabalhar.

 

 

Indústrias do Grupo pararam no tempo

 

Mesmo sendo um dos mais poderosos do Brasil, o Grupo João Santos parou no tempo. A preocupação com as questões familiares ganhou mais importância do que o futuro rentável dos empreendimentos.

A prova disso é o atraso na modernização das fábricas e a busca por novos mercados que não saíram do papel. No caso do Cimento Nassau, o problema ainda é maior. A fábrica possui uma planta da década de 50, de difícil e complexa operação e manutenção. Somado a isso, o surgimento de novas fábricas de cimento na região, como o Cimento Nacional, em Pitimbu PB, do Grupo Ricardo Brennand, com plantas modernas e produção maior, acabou impactando diretamente na venda do Cimento Nassau, que deixou de ser o mais procurado devido ao preço.

 

No epicentro dos atrasos salariais e desvalorização de seus produtos está a questão familiar.

Uma reportagem produzida pela revista Isto É Dinheiro, em 2010, já anunciava a crise instaurada que, mais cedo ou mais tarde, resultaria na situação atual. 

 

Segundo a reportagem, a briga pelo controle do grupo teria de um lado Fernando Santos, José Bernadino Santos e Maria Clara Santos, filhos de João Santos e do outro lado as irmãs de João Santos, Ana Maria Santos e Rosália Santos, além de Alexandra, Rodrigo e Maria Helena, filhos do primogênito João Santos Filho, que faleceu na década de 80. As discórdias entre os parentes de João Santos começaram em 2009, durante o inventário dos bens deixados por ele.

 

O que era previsto acabou acontecendo e os próprios funcionários das empresas têm consciência de que essa disputa familiar acabou refletindo diretamente na vida de todos. É o que disse José Elizeu Ferreira, trabalhador do Grupo, durante os protestos pelo atraso de salário. “Ninguém aqui tem culpa da briga de cachorro grande entre eles. Queremos nossos direitos porque somos trabalhadores e cumprimos com nosso dever”. “Infelizmente eles envergonham até a memória do próprio João Santos”, disse outra funcionária.

 

Diante deste cenário, as especulações não poderiam ser outras. No meio empresarial e entre os próprios funcionários do grupo, a possibilidade de falência do complexo é dada como certa.

 

A Itapessoca Agroindustrial está promovendo um programa de demissão voluntária de seus colaboradores. Todos os funcionários estão sendo estimulados a procurarem o Departamento de Recursos Humanos e pedirem demissão. Em troca, a empresa se compromete a pagar todas as indenizações dos quais os trabalhadores têm direito, em dezenas de parcelas.

 

A reportagem do Goiana Notícias procurou, por diversas vezes, durante a semana, os porta-vozes do Grupo João Santos, mas não obteve qualquer resposta. O Grupo também não possui assessoria de imprensa.

 

 

Sangue e morte no canavial de Santa Teresa

 

Em 2010, a Justiça de Pernambuco condenou a Companhia Agroindustrial de Goiana (CAIG) a pagar uma indenização de R$ 100.000,00 (cem mil reais), com juros e correção monetária, à família do trabalhador Luiz Carlos da Silva, funcionário da Usina, que foi assassinado com um tiro na nuca pelos Policias Militares e seguranças da CAIG.

 

Em 4 de novembro de 1998, os canavieiros da Usina Santa Teresa e de todo o estado de Pernambuco estavam em greve, reivindicando melhores salários, pois, naquele ano, recebiam R$ 2,50 por tonelada de cana cortada. 

 

Diante da paralisação de seus canavieiros, a CAIG contratou cortadores de bambus para realizarem o serviço. O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Goiana, juntamente com mais 80 grevistas, se dirigiu à Usina para convencer os demais trabalhadores a aderirem a greve.

 

Nas terras da Santa Teresa, um bloqueio formado por Policiais Militares e seguranças da CAIG interceptaram o grupo e promoveram uma verdadeira matança, segundo o Ministério Público. Nesta noite, que marcou profundamente a categoria e a população de Goiana, treze trabalhadores rurais foram feridos com tiros nas costas e Luiz Carlos da Silva, 27 anos de idade na época, foi assassinado com um tiro na nuca.

 

A justiça ainda condenou 5 soldados e 1 Capitão da Polícia Militar de Pernambuco, o administrador da Usina Santa Teresa, o encarregado da Segurança e mais 8 seguranças. 

 

 

Vereadores não perdoaram dívidas do Grupo João Santos

 

O Governo do Estado e a Prefeitura Municipal enviaram um projeto para a Câmara de Vereadores de Goiana, em 2013, tentando aprovar a isenção do Imposto sobre Transmissão de Bens e Imóveis (ITBI) do Grupo Industrial João Santos. Se fosse aprovado, o grupo se livraria de uma dívida de quase R$ 4 milhões com o município de Goiana. Os vereadores, por 12 votos a 1, não aprovaram a isenção

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