quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Crivella nomeia filho como secretário da Casa Civil

‘Estou à disposição’, diz filho do prefeito sobre assumir o cargo

POR CAIO BARRETTO BRISO, COM COLABORAÇÃO DE LUIZ ERNESTO MAGALHÃES E NATÁLIA BOERE

Marcelo Hodge Crivella, o Marcelinho - Divulgação

RIO - Ao assumir a prefeitura, no dia 1º de janeiro, Marcelo Crivella anunciou um desejo: “Gostaria que hoje estivesse tomando posse nessa equipe meu próprio filho, que esteve comigo nos tantos anos que passei na África e no sertão. E ele me acompanhou nas campanhas políticas, sobretudo nessa última". O herdeiro ainda não estaria pronto para assumir um cargo no executivo municipal porque, segundo o pai declarou na ocasião, “um compromisso de trabalho no exterior o impediu de vir. Mas espero poder contar com seu apoio para breve".

O sonho, agora, está prestes a se realizar. Marcelo Hodge Crivella, o Marcelinho, como é chamado pela família, será o novo secretário da Casa Civil, no lugar de Aílton Cardoso da Silva, ex-assessor parlamentar do prefeito no Senado, como confirmou o prefeito ao GLOBO nesta quarta-feira.

A nomeação foi publicada na edição desta quinta-feira do Diário Oficial. O atual secretário, Ailton Cardoso da Silva, foi deslocado para chefia de gabinete do prefeito. Já Margareth Cabral, que ocupava a pasta, virou assessora especial da prefeitura. As nomeações parecem ter pego de surpresa até mesmo a equipe responsável pelo Diário Oficial. Apesar das nomeações constarem da página 3, no expediente da prefeitura, publicado na página 2, não consta o nome do filho do prefeito. No expediente, Ailton Cardoso ainda aparece como responsável pela Casa Civil enquanto Margareth, como chefe de gabinete.

— Eu tenho toda a consciência de que ele está preparado para me ajudar. Uma das coisas mais importantes da política. Uma das coisas mais importantes da política é termos ao nosso redor pessoas em quem possamos confiar e estejam preparadas para assumir grandes desafios. Hoje, o grande desafio da minha gestão é contrariar interesses, porque vivemos num momento de austeridade. ele sabe disso. Essa é a minha missão e será a dele também — afirmou Crivella , dizendo não se importar com eventuais julgamentos pela decisão. — Críticas sempre existirão e serão até bem-vindas.

Aíton ajuda a preparar Marcelinho, que já vinha frequentando o Palácio da Cidade quase diariamente. Aonde o prefeito vai, Marcelinho vai atrás. Nesta quarta-feira, estavam juntos na posse do novo presidente da RioFilme, Marco Aurélio Marcondes. Um dia antes, foram a Santa Cruz entregar apartamentos do programa Minha Casa Minha Vida.

Durante a campanha eleitoral do ano passado, o filho estava sempre ao lado do pai candidato. Nas eleições de 2008, Marcelinho, então com 23 anos, já afirmava que queria seguir os passos de Crivella: "Gostaria de ser professor, mas pode ser que eu trabalhe com política ou ajude a igreja", disse na época, ao GLOBO.

Os dois são parecidos até no jeito de falar, com uma diferença clara de posicionamento — não no discurso, mas no penteado. Crivella joga o topete para a direita; Marcelinho, para a esquerda.

— Não posso dar essa entrevista agora. É um assunto que está sendo discutido com os secretários — disse Marcelinho, esquivou-se Marcelinho ao antender o celular, antes do pai confirmar que o nomearia.

Marcelinho preferiu tratar o assunto como "uma vontade que chegou até o prefeito através dos secretários e de algumas pessoas":

— Se ele achar que é algo que vai ajudar ao governo, estou à disposição.

Consultado sobre o tema pelo GLOBO, o advogado Alberto Luís Mendonça Rollo, especialista em direito administrativo e eleitoral, afirmou que a Súmula Vinculante 13 do Supremo Tribunal Federal (STF) permite a nomeação de parentes em cargos de primeiro escalçao do Executivo.

— O STF já fez essa interpretação em outros casos, tanto em estados quanto em municípios, entendendo que, no primeiro escalão, não é caso de nepotismo.

DE OLHO NA CAMPANHA DE 2018

Na última disputa eleitoral, Marcelinho se habituou a aparecer na televisão, pedindo votos para Crivella. Nesse caminho pai e filho enxergam longe, com olhos em 2018. A intenção de ambos é costurar a candidatura de Marcelinho ao Senado, pelo Partido Republicano Brasileiro (PRB), mas para isso, é preciso convencer o senador Eduardo Lopes, presidente da legenda, que era o primeiro suplente de Crivella e herdou a vaga.

É de esperar, portanto, que um projeto para eleger Marcelinho como senador cause incômodo no PRB. Caso não haja acordo, uma alternativa seria Marcelinho tentar uma vaga na Câmara dos Deputados, impulsionado pela gestão de uma pasta-chave na prefeitura do Rio.

Crivella-filho mora há muitos anos nos Estados Unidos. Tem 31 anos, é casado desde 2011 e formou-se em psicologia cristã pela universidade Biola, instituição cristã na Califórnia. Embrenhou-se no universo de life coaching e, após trabalhar na área de licenciamento de marcas da TV Record, entrou em um novo negócio: a escola de computação gráfica Seven.

Um site pessoal antigo informa que sua comida preferida é pizza de rúcula com tomate seco. De acordo com a página, ele dava palestras até alguns anos sobre “como encontrar um companheiro para a vida toda”. Também oferecia a palestra “A arte da negociação: como sair ganhando sempre”.

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