Desembargador suspende peça sobre Jesus transexual em Garanhuns
Amanda Miranda
A menos de três horas da apresentação da peça O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu no Festival de Inverno de Garanhuns, no Agreste pernambucano, o desembargador Roberto da Silva Maia concedeu liminar suspendendo a encenação na noite desta sexta-feira (27). O espetáculo traz uma transexual como protagonista, no papel de Jesus.
“Entre o intuito da livre manifestação teatral, de fomentar discussão sobre o tema, de sabida sensibilidade, e suas prováveis consequências, isto é, surgimento (ou crescimento) de uma ideia de segregação, discriminação e de eventuais atos de violência – não necessariamente durante o próprio FIG 2018, mas futuramente, em eventos isolados -, aliada ao desvirtuamento de uma figura seguida por milhões de pessoas por todo o mundo, o que a meu ver fere a liberdade religiosa, entendo que não existe um contexto favorável à encenação da peça”, afirmou o magistrado na decisão.
O pedido foi feito pela Ordem dos Pastores Evangélicos de Garanhuns e Região.
“Com efeito, Jesus Cristo é a materialização de um profeta sobre cuja vida e ensinamentos, narrados na Bíblia Sagrada, giram todos os dogmas das religiões cristãs. Ao retratá-lo na figura de um personagem de orientação transexual, a peça teatral ‘O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu’, os responsáveis por esta manifestação o desvirtuam de modo a causar veemente repúdio e, por que não, ódio da comunidade cristã, ao ponto de a discussão adentrar as portas do Poder Judiciário”, afirma o desembargador.
“Sob o prisma jurídico, a discussão contrapõe os valores constitucionalmente consagrados das liberdades religiosa e de manifestação de pensamento. Nesse cenário, fazendo um juízo de ponderação entre tais direitos fundamentais, entendo que a liberdade de manifestação do pensamento deve ser plenamente garantida e exercida quando não for passível de afrontar a paz social. O desvirtuamento de um profeta religioso, como dito, fomenta o ódio e a intolerância, máxime quando diz respeito a uma religião sabidamente conservadora e que valoriza sua historicidade e os escritos estanques da Bíblia Sagrada”, diz ainda Maia.
Entenda o caso
A secretaria estadual de Cultura incluiu na grade de eventos do Festival de Inverno a peça. Com o anúncio da programação, o prefeito de Garanhuns, Izaías Régis (PTB), se recusou a ceder o centro cultural do município para a encenação. No dia 5 de julho, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB) esteve em Garanhuns e confirmou a exclusão da peça porque ela provocaria “polêmica”.
Quatro dias depois da decisão do socialista, o Ministério Público estadual publicou no Diário Oficial, uma recomendação à gestão para reintegrar a peça na programação do Festival de Inverno, que, este ano, tem como tema “liberdade”.
Há dois dias, o desembargador do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) Silvio Neves Baptista Filho determinou que o espetáculo voltasse à programação.
O deputado estadual Pastor Cleiton Collins (PP), hoje presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), repudiou com veemência a exibição da peça. Da base do governador, Collins também é representante da bancada evangélica na Casa
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