quinta-feira, 18 de julho de 2019

Não deu like: Instagram elimina curtidas para proteger autoestima de usuário



Se você entrou no seu Instagram e notou algo de diferente, não se assuste. Seu aplicativo não está quebrado e não se trata de um bug escabroso. É que, nesta quarta-feira, a plataforma anunciou que o Brasil se tornou o segundo país no mundo a participar de um teste que esconde as curtidas das fotos no feed. Ou seja, agora só os próprios usuários poderão saber se suas fotos floparam ou bombaram.

Ainda que tenha deixado uma série de influencers e empresas de marketing angustiados, a mudança não foi feita pensando neles, mas sim nos usuários. Ao menos segundo o Instagram. De acordo com a rede social, a decisão é parte de uma série de ações que buscam transformar a plataforma em um espaço menos tóxico para a saúde mental de quem a usa.

A discussão não é nova. Boa parte das críticas mais duras ao Instagram — e várias outras redes sociais — fala sobre a criação de uma espécie de realidade de faz de conta, onde todos projetam imagens irreais de sua rotina para se destacarem no meio do algoritmo.

“É um excesso de pressão social, numa estética do que alguns teóricos chamam de felicidade tóxica ou imperativo da felicidade. No seu extremo, ela passa a ser prejudicial à saúde emocional das pessoas, gerando mal-estar, baixa autoestima e desconforto”, explica Rodrigo Nejm, psicólogo e diretor da SaferNet.

O resultado: insegurança generalizada e baixa-autoestima, que flutuam constantemente de acordo com o número de curtidas em cada postagem. E não precisa ser assim. “A plataforma pode fazer bem às pessoas, desde que a gente consiga usá-la com critérios que não sejam unicamente de competição, comparação e imperativo de felicidade. Não existe vida perfeita sem momentos de tristeza, derrota e fragilidade. Se começamos a fingir que isso não existe, não é saudável” destaca Nejm.

Como destaca Priscilla Silva, pesquisadora em direito e tecnologia do ITS Rio, a situação se torna ainda mais grave se considerarmos que a maioria esmagadora dos usuários do Instagram é jovem. “É um público com a personalidade em formação e mais sujeito a quadros de depressão e vícios de tecnologia”.

Os próprios jovens parecem saber disso. Uma pesquisa de 2017, a Royal Society for Public Health, do Reino Unido, entrevistou cerca de 1,500 jovens sobre qual seria a rede social mais prejudicial a sua saúde mental. O vencedor (ou perdedor) foi o Instagram. “Estudos indicam que, para pessoas que estão em um quadro vulnerável, o uso de algumas plataformas pode agravar o quadro desse sofrimento emocional” explica Nejm.

A conclusão, que não é nova, preocupa a plataforma, que hoje acumula um bilhão de usuários mensais. Por isso mesmo o comunicado do Instagram sobre o início dos testes ressaltou que a prioridade da empresa é fazer com que não “sintam que estão em uma competição”.

Nas palavras da própria empresa, o (possível) fim das curtidas existe para combater a cultura da corrida pelos likes: “Nossa expectativa é entender se uma mudança desse tipo poderia ajudar as pessoas a focar menos nas curtidas e mais em contar suas histórias”.

Fonte: Época

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