sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Minha Casa, Minha Vida decai em Pernambuco e obras desaceleram

Empresas da construção civil se queixam de falta de pagamento e canteiros estão em ritmo lento

Obras de conjunto residencial em Aguazinha, Olinda, estão atrasadas porque verba do governo federal está há quatros meses sem pagar construtora. Foto: construtora AWN /Divulgação

Após uma visita recente a três canteiros de obras do programa Minha Casa, Minha Vida em Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste pernambucano, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil (Marreta), Reginaldo Ribeiro, voltou com uma conta preocupante da bagagem: “Dos 350 trabalhadores que estavam empregados nessas três obras, só ficaram 89”, queixou-se.

Os constantes atrasos dos pagamentos do principal programa habitacional do país, que completou uma década em 2019, empacaram as obras em Pernambuco. Preocupados com a implosão dos contratos após sucessivos calotes do governo federal, alguns empresários da construção civil já falam em recolher as máquinas e mandar a mão de obra de volta para casa.

“A gente voltou ao passado e agora já vê filas de trabalhadores nas portas das obras querendo trabalhar. É uma cena que só se via muitos anos atrás”, completa Ribeiro, representante de outra categoria diretamente atingida.

O cenário de incerteza cresceu em meio à previsão de redução de 50% no orçamento do programa em 2020. Os R$ 2,71 bilhões devem ser usados apenas para honrar os atrasos, mas sem novas contratações. Em Pernambuco, mais da metade (54,4%) das 15.761 obras do programa com contrapartida do governo do estado ainda não foram inauguradas.

O Ministério do Desenvolvimento Regional, responsável pelo programa, e a Caixa Econômica Federal (CEF) não responderam os pedidos da reportagem do Portal OP9, que questionou os órgãos sobre o número de obras em atraso no estado. Estima-se que 125 mil unidades tinham sido entregues nos últimos dez anos no Estado, mas o antigo cenário agora é de marcha lenta.

“Todo mundo tá muito apertado”

Betinha Nascimento, diretora imobiliária do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Pernambuco (Sinduscon- PE) diz que 70% das empresas da construção civil em Pernambuco dependem do programa. “Todo mundo tá muito apertado. Até porque são empresas pequenas que têm que pagar fornecedor, mão de obra, impostos”.

Segundo a diretora, os atrasos das verbas começaram em dezembro de 2018 e continuava até agosto de 2019. “Dos R$ 600 milhões que foram prometidos, R$ 432 milhões serão para o programa. Mas sabemos que isso vai resolver apenas uma parte”.

Verbas do Minha Casa, Minha Vida serão reduzidas em 50% em 2020. Foto: divulgação construtura AWN

O empresário Alexandre Mirinda, de 65 anos, sócio da construtora AWN, está há quase quatro meses seguidos sem receber os repasses do MCMV de uma obra de 440 apartamentos, que gera 250 empregos diretos em Olinda. Em fase de acabamento, o conjunto popular vai abrigar famílias de baixa renda que tiveram as casas desapropriadas para intervenções urbanísticas nos bairros de Aguazinha e Sapucaia, na periferia da cidade.

Desde julho de 2018, quando o primeiro tijolo chegou ao canteiro, já foram seis meses sem pagamento ou com parcelas atrasadas. A entrega das chaves, inicialmente previsa para novembro de 2019, agora só deve ocorrer, na melhor das hipóteses, em junho de 2020. “Enquanto isso, o governo está gastando auxílio-moradia para essas famílias”, pondera o construtor .

Mirinda, que desde 2013 já construiu 3 mil unidades habitacionais, avalia que o programa é importante porque “dá casa a quem mais precisa”, “alivia o bolso do poder municipal” e movimenta a economia local. “Eu não vendo apartamento. Entrego direto para a Caixa, que entrega para a prefeitura, que, por sua vez, entrega pra quem mais precisa. Faço o lado social mesmo tendo lucro, como qualquer empresa precisa ter. O problema é, do jeito que está, não é justo que as empresas banquem a obra”.

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