terça-feira, 4 de agosto de 2020

Estudantes de medicina da UPE fazem vaquinha por EPIs


Estudantes dos últimos anos do curso de medicina têm enfrentado dificuldades para concluir a formação com estágios obrigatórios em hospitais durante a pandemia. Com a suspensão de cirurgias eletivas e outros serviços que foram remanejados para o combate ao novo coronavírus, as vagas para cumprir a carga horária do internato diminuíram. Além disso, os equipamentos de proteção individual estão sendo utilizados preferencialmente para profissionais de saúde na linha de frente. Assim, mesmo surgindo vagas, faltam EPIs para que os estudantes aprendam, na prática, o dia a dia da profissão.

Pernambuco tem, ao todo, seis faculdades de medicina. Na Universidade de Pernambuco (UPE), a Turma 105 está se mobilizando para arrecadar EPIs. “Pelo senso de coletividade, já que nem todos os estudantes conseguem comprar os equipamentos necessários, estamos arrecadando valores para comprá-los”, disse Túlio Henrique Maia, 23, que está no 10º período e se formará no próximo ano.

Nos últimos dois anos do curso, os estudantes precisam passar pelo internato em dois rodízios com um intervalo de 30 dias de férias. É preciso cumprir jornadas semanais em serviços de emergência, medicina clínico-cirúrgica, atenção básica e saúde da mulher e da criança. A carga-horária de cerca de 40 horas semanais é cumprida, no caso da UPE, nas unidades que integram o complexo hospitalar da universidade, da qual fazem parte o Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), na Encruzilhada; o Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc) e o Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco (Procape), ambos em Santo Amaro. Já o estágio no atendimento de atenção básica acontece dentro dos postos de saúde municipais.

Com a mudança na rotina dos hospitais, tanto o quantitativo de vagas e o tipo assistência prestados pelo médico mudaram, já que os esforços se concentram em atender casos da Covid-19. “A UPE tem feito um esforço junto à Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) e à Prefeitura do Recife para que as turmas 104 e 105 voltem em meados de agosto. Logo no início da pandemia, o internato foi suspenso para a própria segurança dos alunos. Desde junho as emergências estão começando a voltar. Uma sugestão dos próprios alunos seria completar o estágio durante o período de férias que ocorreria entre os rodízios do internato”, comentou a diretora da Faculdade de Ciências Médicas da UPE, Dione Maciel.

Pandemia gerou cancelamento de cirurgias eletivas e dificultou o acesso de estudantes a procedimentos. A previsão é de que a turma 105, composta por 77 alunos, volte a cumprir o internato no fim de agosto. Já a turma 106 tem 75 estudantes e precisou parar o estágio ainda no começo, ainda não sem data definida de retomada. De acordo com a UPE, a prioridade é de que as duas turmas voltem no mesmo período. “É preciso equalizar as vagas para todos os cursos de medicina do estado. A UPE ainda tem os hospitais do complexo, mas universidades privadas, por exemplo, demandam das vagas dos hospitais públicos”, explica Dione Maciel.

Para o estudante Túlio, a distribuição das vagas poderia seguir outro formato. “A divisão não é equitativa pensando no número de estudantes. É igualitária por faculdade. Nós do 10º período da UPE seremos os próximos a nos formar. O estágio curricular é obrigatório e está parado por causa da pandemia”, lamenta.

Segundo Túlio, mesmo que a rotina dos hospitais esteja voltada para o combate à Covid-19, os futuros médicos já são capazes de contribuir. “Nesses últimos anos, precisamos passar pelo internato duas vezes e cumprir as jornadas, mesmo em serviços que se voltaram à pandemia, que se afasta um pouco do nosso objetivo. Mas estamos nos formando e quanto mais tempo demora, menos se disponibilizam médicos para a sociedade”.

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